Hoje, quando saia da linda cidade de Silves (embelezada com o seu castelo altaneiro) em direcção à não menos bela cidade de Portimão (esta, embelezada pela grandiosa praia da Rocha), deparei-me com uma placa informativa (à beira da estrada em que seguia – a tão afamada EN125, pois a A22 deixou de ser opção desde que o governo do Pedro Passos Coelho decidiu estupidamente passar a taxa-la com portagens) que assinalava a presença de uma localidade chamada “Palmeirinha”.
Que nome sugestivo, esse. O mesmo deve ter sido atribuído, há muitos (mas muitos...) anos atrás por quem quer que tenha povoado esse lugar pelo facto, óbvio (parece-me), de ai haver uma palmeira pequena à qual foi atribuído grande significado e valor. Mas o que será feito, hoje, de tal árvore?! A existir (o que não é provável) terá certamente um tamanho muito considerável. A palmeirinha será, no mínimo, uma imponente palmeira adulta – uma palmeirona ou, um palmeirão. E, se assim for, o nome dessa localidade deixou de fazer qualquer sentido pois deixou de exprimir aquilo que outrora o povo desejara que exprimisse.
É por essas e por outras que acho que os responsáveis por nomear as terras que foram sendo paulatinamente povoadas, desde o tempo em que o nosso querido D. Afonso Henriques decidiu começar a “correr a pontapé” com os mouros deste país, deviam ter tido muito mais cuidado com a escolha dos seus nomes. Não deviam nunca ter dado nomes com graus diminutivos, mesmo que algo de muito pequeno houvesse por tais paragens. É que as coisas crescem... como é o caso, certamente, da Alfarrobeirinha (Beja); das Alminhas (Oliveira de Azeméis); das Cabecinhas (Vagos); da Cabritinha (Almodôvar); da Campinha (Santa Maria da Feira); da Capinha (Fundão); da Casinha (Almodôvar); da Cruzinha (Ovar); da Eirinha (Almodôvar); da Figueirinha (Almodôvar); da Fontinha (Oliveira de Azeméis); da Moitinha (Vagos); da Mourinha (Arouca); da Oliveirinha (Aveiro); das Pedrinhas (Murtosa); da Pontinha (Odivelas); da Prainha (São Roque do Pico); da Quintinha (Castelo de Paiva); da Ribeirinha (Almodôvar); da Senhorinha (Sever do Vouga); da Silveirinha (Santa Maria da Feira) da Sobreirinha (Aljustrel); da Torrinha, (Almodôvar); da Voltinha (Ovar); do Barranquinho (Almodôvar); do Campinho (Reguengos de Monsaraz); do Casalinho (Santa Maria da Feira); dos Castanheirinhos (Oliveira de Azeméis); do Cavaquinho (Santa Maria da Feira); do Chãozinho (Anadia); dos Escudeirinhos (Beja); dos Ferreirinhos (Anadia); dos Forninhos (Aguiar da Beira); dos Lagarinhos (Gouveia); do Laguinho (Ílhavo); dos Moirinhos (Castelo de Paiva); do Montinho (Almodôvar); do Mosteirinho (Tondela); do Ourozinho (Penedono); do Outeirinho (Santa Maria da Feira); do Perozinho (Vila Nova de Gaia); do Pinguinho (Arouca); dos Pinheirinhos (Castelo de Paiva); do Pombalinho (Santarém); do Raminho (Angra do Heroismo); do Ribeirinho (Castelo de Paiva); do Salgueirinho (Oliveira de Azeméis); do Seixinho (Castro Verde); do Silvaldinho (Espinho); do Sobralinho (Vila Franca de Xira).
E, o contrário é igualmente válido. De que serve nomear um lugar com um nome com um grau aumentativo quando as “coisas” podem minguar?! Esta é uma verdade de La Palisse com a qual nos confrontamos quase todos os dias (bom, pelo menos nós – os homens). E não é agradável a sensação quando tal acontece. O mesmo pode também acontecer com o Agulhão (Évora); o Bogalhão (Castro Daire); o Bolhão (Soure); o Bugalhão (Montalegre); o Carvalhão (Abrantes); o Castelhão (Barcelos); o Cubalhão (Melgaço); o Gorgulhão (Vila Nova de Famalicão); o Malhão (Cinfães); o Mergulhão (Vale de Cambra); o Milhão (Bragança); o Montilhão (Vila Nova de Famalicão); o Olhão (Olhão); o Orelhão (Oleiros); o Pilhão (Marco de Canaveses); o Pontilhão; (Águeda); o Ramalhão (Viana do Castelo); o Rodilhão (Lousada); o Serralhão (Odemira); o Talhão (Montemor-o-Novo); o Vagalhão (Ourique); o Verdelhão (Castelo Branco); o Fontanhão (Idanha-a-Nova); o Fronhão (Odemira); o Pinhão (Oliveira de Azeméis); o Ranhão (Vila Pouca de Aguiar); ou o Unhão (Felgueiras).
Isto é só um pequeno reparo, claro. Pois, e vendo bem os nomes de algumas outras terriolas portuguesas, estes graus de grandeza deixam até de ser importantes tamanha a estranheza dos seus nomes. São o caso da Aliviada (Marco de Canaveses); do Amor (Leiria); das Angústias (Paredes de Coura); de Às Dez (Angra do Heroísmo); da Bexiga (Tomar); do Bicho (Santo Tirso); dos Cabeçudos (Marvão); da Cama Porca (Alhandra); da Campa do Preto (Maia); do Casal de Água de Todo o Ano (Abrantes); da Catraia do Buraco (Belmonte); do Cemitério (Paços de Ferreira); do Chiqueiro (Lousã); do Colo do Pito (Castro d’Aire); do Coxo (Vila da Praia da Vitória, Oliveira de Azeméis e Felgueiras); do Crucifixo (Tramagal); do Deserto (Alcoutim, Coruche e Estremoz); da Endiabrada (Aljezur e Odemira); do Esgaravatadouro (Monchique); do Focinho de Cão (Aljustrel); do Garanhão (Ponte da Barca); dos Hospícios (Azeitão); do Imaginário (Caldas da Rainha); de Jerusalém do Romeu (Mirandela); do Mal Lavado (Odemira); da Máquina (Cabeceiras de Basto); do Mata Mouros (Vila do Bispo); da Mata Porcas (Lagos e Monchique); dos Namorados (Castro Verde e Mértola); do Orelhudo (Coimbra); do Paitorto (Mirandela); da Paixão (Celorico de Basto e Vieira do Minho); do Paraíso (Vários); do Passado (Vila Verde); do Pedaço Mau (Vila Nova de Ourém); dos Pés Escaldados (Arganil); da Pobreza (Caminha); da Ponta (Lajes das Flores e Porto Santo); da Porca (Ponte de Lima); da Presa dos Mouros (Lagoa); do Purgatório (Albufeira); dos Quartos (Vila Verde e Loulé); da Quinta de Comichão (Guarda); do Rabo de Porco (Penela); do Rato (Barcelos e Vila Nova de Famalicão); da Ratoeira (Vila Nova de Cerveira); do Rego do Azar (Ponte de Lima); do Rio Seco dos Marmelos (Ferreira do Alentejo); da Senhora do Alívio (Baião); do Sítio das Solteiras (Tavira); da Terra da Gaja (Lousã); do Vale de Mortos (Beja); da Venda da Porca (Estremoz); da Venda das Pulgas (Mafra); da Venda das Raparigas (Alcobaça); da Venda dos Pretos (Leiria); do Vilar dos Prazeres (Ourém); da Vinha da Desgraça (Coruche); e da Violência (Paredes de Coura).
Mas, há piores. Sim... muito piores! Não só pelo bizarro como pelo significado atribuído a tal nomenclatura. Como terá sido possível nomearem-se lugares com nomes que roçam o… (como direi?!) o ordinário?! Mas ordinário, mesmo. Será que esses nomes foram impostos pelo reino vigente (houve alguns monarcas que eram, de facto, um tanto ou quanto chanfrados – mas, tanto?!) ou, terão sido unanimemente aprovados pelo povo que as povoou?! É estranho... muito estranho!!! São, os casos da Bicha (Gondomar); do Cabrão (Ponte de Lima); dos Cabrões (Santo Tirso); do Coito (Várias); do Monte dos Tesos (Avis); da Picha (Pedrógão Grande); do Punhete (Valongo); dos Traseiros (Oliveira de Azeméis); do Vale da Rata (Almodôvar); de Vergas (Vagos); da Vila Nova do Coito (Santarém); e da Venda da Gaita (Pedrógão Grande - perto de Picha).
É com cada nome... vai lá vai…!!! Mas se observarmos com atenção estes últimos nomes (os ordinários, portanto), à excepção do Vale da Rata (Almodôvar), todos os outros estão situados no norte do país. O que é de certa forma natural, pois foram as primeiras terras que foram conquistadas aos mouros. Aí a língua estaria bem mais afiada. Tudo o que fosse nome que fizesse esquecer essas tão mal-amadas “células islâmicas” seria facilmente aprovado e muito bem-vindo.
À medida que se foi povoando o sul do país a língua foi-se dobrando. Foi ficando mais contida... de tal forma que no concelho do Barreiro não houve a coragem do norte e por isso nomeou-se uma (linda) localidade com o nome (pouco sugestivo) de Coina...
Ainda há quem diga que este país não tem graça?!
Luís Alturas, 27 de Dezembro de 2011