A Verdade do Evangelho
(Segundo a perspectiva de Luís Alturas)
Capitulo XI
Belém, 25 de Dezembro do ano 7 a .C.
Haviam, finalmente, chegado a Belém. Tinham-se feito transportar num jumento, que lhes havia sido emprestado por um vizinho, em Nazaré. Tal jornada demorara 5 dias e 4 noites e havia sido extremamente extenuante, principalmente para Maria, que já estava num avançado estado de gravidez.
Quando aí chegaram a noite fazia-se cair muito rapidamente, bem como a temperatura que parecia querer acompanha-la. Aquele Inverno mostrava-se extremamente rigoroso, não só pelas baixas temperaturas como pela chuva, que não dava tréguas, teimando em cair copiosamente durante dias e noites consecutivos. O sol, esse, já há muito que não se deixava ver nos céus da Judeia.
Para não terem de pernoitar uma vez mais ao relento – como havia acontecido nas 4 noites anteriores – logo que chegaram àquela que era a cidade natal de José, deslocaram-se ao albergue que ele sabia dar guarida, bem como alguma comida, a todos aqueles que fossem viajantes. Mas porque eram chegados os derradeiros dias para o recenseamento obrigatório, eram às centenas os que ali já haviam chegado, antecipadamente, com o mesmo propósito. Assim, quando José indagou o homem, que lhe haviam dito ser o responsável por aquele asilo, logo fora confrontado com uma resposta prontamente negativa.
- Já não tenho espaço para vos acomodar, senhor…
- Não vedes que a minha senhora carrega criatura em seu ventre e que não pode ficar sujeita a tão fria e desabrida noite…?! – Continuara José, tentando apelar ao sentimento daquele homem que parecia não ser minimamente sensível a tal condição.
- Percebo senhor… – Respondia aquela gorda figura, de barba rala e pele encardida, olhando para Maria que se detinha encharcada à porta do albergue, com os olhos posto no chão. - Desculpai, sua senhoria… mas que está cheio e não suporta mais ninguém…
Desolados e percebendo que não conseguiriam jamais guarida naquele albergue, não lhes restara outra alternativa senão deslocarem-se para fora do povoado à procura de algum casebre abandonado ou alguma gruta que por aí houvesse.
Após terem caminhado, um par de horas, por caminhos tortuosos e trilhos enlameados, encontraram uma pequena gruta incrustada numa escarpa rochosa que servia de estábulo para os animais se refugiarem. Não lhes restando alternativa, e uma vez que Maria estava cada vez mais queixosa, percebendo que o nascimento do fruto do seu ventre estaria para muito breve, acabaram por fazer daquele exíguo e fedorento espaço o seu abrigo para aquela noite.
Depois de ali se terem instalado o mais confortavelmente que lhes fora possível, deitaram-se sobre a palha mais enxuta que haviam conseguido reunir a fim de repousarem. Não demorara mais do que um minuto e José começara a dormir. Já Maria, não.
Ao contrário do que fora o seu intento, essa noite viria a revelar-se ainda mais extenuante e penosa do que as anteriores. A determinada altura, as águas do seu ventre soltaram-se encharcando-lhe as pernas e as dores, que a atormentavam desde que chegara a Belém, deixaram de lhe dar tréguas começando a ser cada vez mais constantes e dilacerantes. Nesse momento ela tivera a certeza. É hoje…
Não querendo perturbar o repouso do seu esposo que, agora, dormia profundamente – e que só viria a acordar mais tarde com o ruído inusitado de um choro – e não havendo mais ninguém para a ajudar a consumar aquele acto tão natural, Maria haveria de parir nessa noite, sozinha e no local mais escuro e recôndito daquela gruta, aquele que viria a ser considerado o novo messias – Jesus.