A Verdade do Evangelho
(Segundo a perspectiva de Luís Alturas)
Capítulo XVIII
Belém, 07 de Abril do ano 30 d .C.
Uma vez que, por essa altura, se celebrava a Páscoa, os dirigentes Judeus solicitariam a Pilatos para que aqueles corpos não ficassem expostos no Gólgota, mas que se lhes dessem sepultura ainda nesse dia antes do pôr-do-sol. Como a lei judaica não permitia a sepultura de um crucificado num cemitério judeu, os guardas do templo haviam-lhe pedido para que aqueles três corpos fossem atirados para os fossos abertos de Gehena, ao sul da cidade. Não fosse a lesta acção de um dos seguidores de Jesus, que haveria de alterar para sempre o desfecho da sua vida, e esse teria sido o último destino do seu corpo naquele dia.
Depois de ter passado um pouco mais de uma hora após as suas derradeiras palavras, para os seus executores Jesus encontrava-se morto e bem morto. Assim, dispensando o habitual trespasse do coração com a lança, dois soldados romanos retirá-lo-iam daquele madeiro permitindo aos seus familiares que tratassem, agora, do seu corpo inerte. As mulheres assim o fizeram. Com os rostos pejados de lágrimas, limparam-no muito cuidadosamente com um pano molhado, untaram-no com aromas e embrulharam-no num lençol de linho branco. Depois de executados estes preparos tiveram permissão para o transportarem, para a sepultura que pertencia a José de Arimatéia que, a troco de suborno, tinha conseguido a permissão de Pilatos para reclamar a si o sepultamento de Jesus.
Por volta das quatro e meia da tarde a procissão do enterro de Jesus de Nazaré partiu do Gólgota, em direção ao túmulo de José de Arimatéia, do outro lado da estrada. O corpo de Jesus fora levado pelo próprio José de Arimatéia com a ajuda de Nicodemos, João e do centurião romano. Tal procissão fora seguida pelas mulheres, que se mantiveram fiéis na vigília.
Os quatro homens leva-lo-iam, com reverência, até dentro da tumba - uma câmara quadrada com cerca de três metros de lado - que preparariam apressadamente para o seu sepultamento, colocando-o numa das suas plataformas. Logo de seguida, o centurião faria um sinal para que os seus soldados o ajudassem a rolar a pedra da frente de forma a selarem o túmulo. Depois de concretizado este derradeiro procedimento, alguns dos soldados partiriam para Gehena, levando os corpos dos ladrões, enquanto outros voltariam para Jerusalém, a fim de festejarem a Páscoa.
Entretanto, as mulheres permaneceriam perto da tumba até que a noite escura chegasse. Uma vez que estas achavam que Jesus não havia sido preparado apropriadamente para o sepultamento, entre si, fizeram um acordo de voltar à casa de José, descansar no sábado, preparar especiarias e unções e voltar no domingo pela manhã para preparar o corpo do Mestre de modo apropriado para o eterno descanso.